terça-feira, 20 de abril de 2010

Virtude e (In)certeza


Os baús, as caixas de música, os papéis de embrulho, os laços coloridos, as telas escuras, os pincéis molhados, os cadernos de história, os lápis de cera, os instrumentos de trabalho do quotidiano que sublimam emotivamente os nossos pequenos segredos individuais que nem nós próprios estamos por vezes capacitados para decifrar.
Os dons e talentos, que se revelam nestes segredos e se escondem na aparência da vida, sempre tão subestimados por todos que não os reconhecem. Já é usual a virtude ser rasgada a meio pelo pecado e pelo vício que a engolem na sede da fortuna e da fama.
Virtude já não se usa hoje em dia. Caiu tão em desuso como a boa educação. A balança fica então tão leve quanto vazia, esquece-se o elevador que a trouxe e é atirada a proeza pela janela. Deixam-se decisões ao abrigo e suporte da nossa racionalidade certa, que às vezes nos ajuda mais do que a nossa sensibilidade insegura e mutável, porque às vezes é preferível fazer menos do que mais, deixar as coisas seguirem a vontade do acaso em vez de serem conquistadas e lideradas pela nossa própria sede de poder. Isto porque há realmente esperanças e desejos que são autênticas loucuras para se ter quando governadas nas nossas mãos.
A partir de hoje deixo a sorte levar o seu rumo e o meu, pois pelo menos ela eu sei que a não posso prever, como prevejo hoje tão bem as pessoas e comportamentos respectivos. Pelo menos a sorte e o acaso não tem dias de manifesto ou greves marcadas, coração leviano ou cabeça imatura. Pelo menos com ela a única e derradeira certeza que tenho é que certezas não existem nunca mais.

3 comentários:

  1. Não deixes a sorte e o acaso gerirem aquilo que teu é, pois nem eles têm um rumo definido. Leva a tua vida pelas tuas próprias mãos, sempre está melhor entregue ;)

    Adoro-te!

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  2. Era suposto eu parar de escrever não era? :)
    "A partir de hoje deixo a sorte levar o seu rumo e o meu, pois pelo menos ela eu sei que a não posso prever, como prevejo hoje tão bem as pessoas e comportamentos respectivos."
    deixas a sorte comandar-te ? pois eu acho que fazes bem, porque eu também acredito nisso mesmo.
    quando dizes que prevez tão bem as pessoas e os comportamentos, é porque estas a por como hipótese, o facto de já as conheceres muito bem , e achares que a mesma pessoa já não te pode mostrar muito mais do que o que é.
    nisso não concordo muito contigo, porque as vezes, as maiores surpresas vêm de quem menos esperamos.
    Podes pensar que ando a fazer isto para te dar gozo, mas se estiveres a pensar assim estas muito errada.
    ate manha, Joana :)

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  3. a questão aqui é que há pessoas e pessoas, não são todas iguais, há algumas que consegues prever mesmo, por muito que desejes que elas um dia te surpreendam, tudo o que elas fazem, dizem ou pensam, tu ja calculas o rumo que tudo isso vai ter, é demasiado simples, é isso que faz falta: desafio.

    eu nao penso nada, nao sei muito bem o que pensar xD

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