sexta-feira, 17 de setembro de 2010

5 Minutos

Tens cinco minutos. Tens o declínio e tens o infame, tens o flamejar de algo que não sabes justificar e tens o rodear de uma estrada que te leva à meta mais profunda. Tens as tuas decisões, os teus problemas, tens todas as preocupações mundanas que te cercam e te estrangulam a cada minuto que passa.
E é isso mesmo, é o passar do tempo. De cinco minutos, já só tens três. Os três estão a contar e o tic-tac do relógio é uma coisa que ainda não sabes travar. Quando dás por ti, o tempo já passou, e tu, onde estás? No mesmo lugar, na mesma posição, no mesmo raiar de espaços que te perturbam, na mesma debilidade e instabilidade que te manipula distraidamente. Todavia, não sabes se vais continuar aí ou se vais partir desafogadamente para outrora, para outro sítio conhecido ou desconhecido, bom ou mau, aborrecido ou de fortuna. Não reconheces as possibilidades perante o que chamas ser a tua própria figura senil. Porque elas são demasiadas, tantas e tão emaranhadas que chegam a ser incontáveis.
Vais mesmo deixar que o tempo se encarregue do que és? Perdeste a dinâmica.


quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Crítica

Quero resguardar em mim o espírito deste texto. A possessividade actual da essência de cada uma das palavras. A intertextualidade que se relata peremptoriamente em busca daquilo que possa vir a ser descoberto.
O génio, o crime, a mentira, a guerra, os sinais infinitos da inadaptabilidade ao meio que nos sofre, as marcas de água e sangue no rosto dos poetas que se invalidam com tanta poeira seca que revolta o ar e nos inunda as fossas nasais para nos apodrecer de loucura, para nos cultivar o medo e para nos sacudir os sorrisos.
A terra suja que calcamos e as folhas rasgadas que nela brotam, as pedras que eram cor de marfim e que são agora cor de fumo, as fábricas de luxúria alardeada que têm o expoente máximo da carência de devoção ao verde amazónico, os tribunais sem tribunas que se constroem à mão dos juízes infiéis que mentem ao povo em nome do papel colorido que o estado lhes envia em envelopes selados pela miséria e pelo desacordo da decadência de uma população não viva, o escarne e o mal dizer à conta de um sistema de ricos e pobres que procuram as latas do desenvolvimento esquecido, os puritanos dos animais inocentes aos quais se referem como mera carne de consumo, a inconsciência da inexistência de uma mesma consciência que pudera ordenar pelos actos que foram impunes e mesquinhos, a hereditariedade de um consumismo extremo pelo pleno amor-próprio, pela ignorância repugnante do altruísmo e pelo casamento faustoso que se prezou entre o egoísmo e a indecência moral de cada cidadão, os elogios egocentristas e as críticas galardoadas, os futebolistas multimilionários e os seus palacetes com o dinheiro daqueles que não conseguem pagar as prestações em atraso, os tiros para o ar e os tiros nos alvos descomunais, o patriotismo descrente na comunidade de anjos que já não o são, a fé e a esperança relevadas para uma escala de milímetros onde já nem o tempo se mede ou conta pela intemporalidade para a qual ele fora enviado, as igrejas e as capelas acusáveis que pregam em nome de Deus e de Cristo pela paz e pelo amor, quando o que fazem é trair os princípios básicos da moralidade, nunca evocando os pontos fulcrais que o divino consideraria monumentais e exactos, as escolas e as universidades que ensinam a teoria e falham a prática, que extorquem os próprios aprendizes e que se dizem em nome da sabedoria quando o que lhes cobre a mente é o dinheiro e o poder, os carros dos políticos que se sentam durante um dia sem pausas numa assembleia de falsidade e de ataques pessoais, não recordando que cá fora a vida não é cor-de-rosa nem há muito menos tempo de olhar as estrelas. A horripilante verdade de uma concreta conspiração involuntária que remete o que temos para o que não temos e nos deixa, a cada dia que passa, em volta do nada.
Um brinde ao desmoronar de uma sociedade e à podridão emocional que a dirige.

sábado, 4 de setembro de 2010

Is it?

Quero apenas cinco coisas..
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando.


Pablo Neruda