domingo, 4 de abril de 2010

Artes


É tão fácil fazer promessas e juras perenes, quando a sociedade não permite nada eterno actualmente. É tão simples e redundante falar sobre os actos quando as palavras não são às vezes sequer capazes de os descrever de modo viável.
Conjugar verbos, adicionar prefixos, misturar advérbios e combinar nomes é um manuseamento fraco e retorcido da vida. Nunca estas míseras palavras vão ser suficientemente suficientes para coordenarem a vida de alguém. “Uma imagem vale mais do que mil palavras”. Troquemos “imagem” por “acto”, não faz agora tudo muito mais sentido? Se nos concentrássemos todos neste tipo de pensamentos tenho a certeza absoluta de que o mundo estaria em melhor estado. Mas não está, não está precisamente porque o remédio de todo o acto é a palavra, que por ser reconfortante e libertadora passa a ser usada como medicamento pontual para os casos mais graves de actos que não foram convenientemente medidos. O que é isso? Que são as palavras senão meros escapes pessoais para os problemas reais do quotidiano?
O que estou aqui a fazer é exactamente isso: libertar-me daquilo que sinto, e como não vejo actos, ou não tenho coragem para os pôr em prática, imagino-os numa folha de papel, ou num ecrã de computador. Os pintores usam as telas, as tintas e os pincéis, e traduzem uma realidade que é só deles. Bailarinas expressam contentamento ou falta dele nos palcos, ao som das sinfonias, dos músicos que as compuseram com a inspiração dos seus problemas, ou das suas felicitações da vida. Actores e actrizes sobem para os teatros ou para as nossas televisões para interpretarem personagens fictícias de histórias que sonham para que se concretizem. São formas de arte. Manipulações preciosas do subconsciente humano para que possamos ser aquilo que queremos sem dar um único passo nos abismos do mundo. Teatralidades triviais e translúcidas, representações esquemáticas e influenciáveis daquilo que queremos ser, que queríamos fazer e que não fizemos, que vimos e que não aproveitamos, cópias mentais de uma realidade não existente. Arte.
Já dizia Fernando Pessoa, e não em vão com certeza: “o poeta é um fingidor/ finge tão completamente/ que chega a fingir que é dor”. Pois é, e o poeta, o escritor, o pintor, o bailarino, o actor e afins não são mais que isso: fingidores. É para eles que todo o mérito é recambiado, uma vez que conseguiram traduzir minuciosamente as suas utopias. No entanto, mais mérito têm aqueles que as conseguem realizar.

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