quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

São Ideias


O amor, e não um amor, faz-se quando há tempo. No intervalo para almoço, na pausa para café, depois da aula de dança, antes de ir dormir. O amor é uma monstruosidade. Livrem-nos do «amo-te»! Cheguem para lá com o «gosto de ti»! Dizemos um «adoro-te» e temos a polícia do amor a cair-nos em cima: mais um desacato e dificilmente nos escapamos da pildra. O amor quer-se guardado no cofre. De costas contra os cantos da sala. Atrás das grades, a ver o sol entrar aos quadradinhos. Como os cães, preso pela trela. Atado num poste com um cadeado.  O amor assalta-nos. Rouba-nos o tempo. O amor custa. Lá se vai uma parte do rendimento para o amor. O amor gasta luz, gasta água, e ainda suja o tapete da entrada. Definitivamente, fora de moda, antiquado.
O amor é para as crianças, gente crescida não usa disso. É-lhes sempre penhorado.
Eu aviso desde logo, não tenho o mínimo jeito para ser a pessoa que conjecturam que eu seja. E a minha noção de previsibilidade está assaz aquém daquilo que sei fazer, não sou de confiança e como tal, aconselho a que não contem comigo. Mal vejo o amor a passar, não sou daquelas que fica a assistir sem correr atrás, como quem vai a uma peça de teatro. Amor está para mim como um estímulo está para uma resposta do sistema nervoso central. Não tenho mínimo talento para telefonemas demorados, muito menos para passeios em jardins de romance.
Podem esquecer a ideia de me pedirem para ser cão que ladra mas não morde. Gastam o vosso tempo e o vosso latim a pedirem para não dizer o que não estava programado. Escusam de implorar para ouvir em silêncio. Vou querer justificações e explicações para tudo, e a minha curiosidade está sempre acima do esperado. Não estou para adiar beijos, alegrias, abafar infelicidades e evocar pretextos. Se querem mesmo que vos poupe ao meu amor, não apareçam nem próximo. A única coisa que têm de conceber é que compreender não está nos meus projectos de compromisso. 

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