terça-feira, 31 de agosto de 2010

Quero-te

Apaixonas-me, cegas-me, inventas-me, enlouqueces-me, atrapalhas-me, confundes-me, baralhas-me, entristeces-me, enraiveces-me. Amas-me. Eu amo-te.
Quero-te tanto que exclamo para que sejas ar, céu, terra, mar. Para que tudo em que toque tenha o teu cheiro, para que tudo que me rodeia seja a tua pele, para que tudo aquilo em que caminho sejam os teus cabelos. Anseio para que toda a minha vida dependa de ti, e por isso, odeio-te. Odeio-te porque quando fecho os olhos tu já não existes no que vejo e passas a existir no que não vejo, odeio-te porque quando não estou a dormir sonho contigo eternamente, e quando durmo, continuo a sonhar. Odeio-te por fazeres de mim alguém diferente e inexplicavelmente maravilhoso. Odeio-te por fazeres parte de mim, por arrancares pedaços da matéria de que sou e os guardares só para ti a sete chaves de ouro e fogo, sem uma única partilha. Odeio-te porque na verdade, não te tenho, porque não estás aqui, e odeio-te quando estás. Odeio-te porque existes. Amo-te.
Contigo, com os teus lábios, não consigo respirar, sufocam-me, deixam-me inconsciente. Não sei viver sem ti, nessa tua ausência tão demorada. Queres matar-me com as tuas mãos, num abraço que me asfixia, queres envolver-me no teu perfume, queres infectar-me com a tua voz, apunhalar-me com o teu toque. Mata-me de vez porque sem ti já não sei delinear qualquer essência que me prenda e me faça reclusa. Porque quando se faz noite preparo os meus lábios e eles já não sentem nada, porque quando reclamo o teu nome em prosa vulgar tu não lhe respondes, e mesmo com a poesia elaborada, ouço apenas o silêncio a tentar tomar o teu lugar, que se torna cada vez maior e mais vazio, que está cada vez mais frio e faz pairar a tua figura, sempre mais esbatida do que no dia anterior.
Amo-te, porque tudo em ti faz parte de mim, tudo aquilo que te rodeia faz parte do meu mundo, pois o nosso mundo é exactamente o mesmo, idêntico em tudo, em todos, completamente igual. Amo-te porque ao teu lado sou melhor do que sem ti, amo-te porque aquilo que sinto por ti é capaz de quebrar correntes de oceanos, cravar sulcos nos continentes, abrir fendas no ar até ao vazio, e amo-te porque o meu sentimento por ti é inquestionavelmente mutável de dia para dia. Por tudo isto te continuo a odiar, persistentemente.
O quanto desejo que me arrastes pelo chão, que me abraces com tanta força até que o mundo inteiro desapareça e colapse num ponto, ficando só eu e tu, para que me assassines em paz e solidão. Quero-te, odeio-te, desejo-te, anseio-te, amo-te, porque até o chão grita de prazer à tua passagem, até o ar vibra com a tua voz, até o mar te evoca quando te ausentas, até a chuva te quer tocar para sentir a tua aura. E isso mata-me, tu matas-me: sentes o sangue a escorrer, e o êxtase, e o medo que é inimigo, e a adrenalina a correr-te pela epiderme, e aquela sensação agradável que percorre todo o teu sistema nervoso e te faz tremer e parar no tempo para te ofereceres às delícias da luxúria e da tentação; e sentes-te bem.
Dá-me a tua alma para poder matá-la também.

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