quarta-feira, 5 de maio de 2010

Sociedade corrompida

Dou por mim a navegar num terreno infindável de mentiras, desgostos, omissões e partituras inacabadas em relatos mal fundados. E, quando dou por mim assim, fico descoordenada como nos dias de hoje, sob o bafejar do alcatrão agoniante e desintegrante que se questiona e me faz questionar não só o meu eu como também o eu alheio.
Se abraçarmos a nossa imagem no espelho nunca vamos conseguir absorver dela tanto quanto ela absorve de nós. O que ela nos suga é mais do que tudo, e aquilo que dizemos ser nosso passa a estar na guarida de um retrato que, à primeira vista, nunca será letal. Mas é, pois esse retrato esconde todos os podres, nus, crus e, pior de tudo, verdadeiros. E é esse retrato, que quando nos apanha em conjunto, detecta cada réstia de vergonha que a comunidade humana tem vindo a carregar ao longo dos anos.
A verdade é mesmo essa: quando menos esperamos já estamos nós sofregamente afundados na teia de mentiras em que se tornou a sociedade. O meu ponto de vista realista e totalmente descrente no surrealismo não me permite olhar para as coisas de outra maneira que não seja esta. Estamos, literalmente e objectivamente, todos nós ligados a pequenos elos de corrupçõezinhas aparentemente nunca malignas e que nos degolam aos poucos sem sequer nos apercebermos. Para mim, que venero as sátiras e entro em pacífico delírio com a ironia e veracidade que essas carregam, prendo-me à ideia de que esta nossa aldeia global já nos aprisionou a todos a um esquema tão complexo e tão meticuloso de manipulação humanitária que chega a ser absurdo o simples facto de referir tal opinião. Todavia, não há um único ser humano que seja capaz de negligenciar este tipo de comentários ou que interprete de outra maneira que não seja esta tudo aquilo que os media nos apresentam, diariamente.
Deparamo-nos a todas as horas com notícias novidade, as conhecidas “última hora”, na berra e no precipício das mentes que as observam e que interrogam como tal é passível de crença. O mais pitoresco é ainda que, quando confrontadas, as pessoas sejam sempre capazes de atenuar mais um pouco aquilo que já os próprios meios de comunicação nos apresentam de forma incompleta. E não sejamos também hipócritas, isto é, não digamos que tal é recente e que só agora nos vemos frente a frente com dadas acusações, pois o mais provável é que, desde o mito de Adão e Eva, estes eventuais acontecimentos já existissem. Hoje em dia, somos quase como que bombardeados com televisões, revistas, jornais, etc, carregados de informação mortífera à manifestação saudável de uma sociedade. Governos, instituições, empresas, sindicatos, prezam impetuosamente por resguardos e controlos, imploram jocosamente por calma e sensatez em revoluções. A pergunta que coloco é: como podem tais organizações exigir atitudes imorais como estas de um povo que por elas foi arrastado para um seio de corrupção, ilegalidade e cobardia?

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