Corremos.
Sonhamos. Desesperamos.
Divagamos. Esperamos. Tentamos. Imediatamente, vivemos. Somos. Pensamos. Descarrilamos.
Somos agora algo que nunca imaginamos que podíamos vir a ser. E talvez nunca soubéssemos o que algum dia seríamos. Estamos parados. A pensar. Observamos. Tentamos recapitular, outras vezes, avançar. Olhamos para a pequena parte de mundo que éramos e comparamos com o mundo que somos. Vemos a diferença, o céu e o mar.
Agachamo-nos, abrimos a palma da mão e colocamo-la no solo. Com força e determinação, enchemos a mesma com um punhado de terra, tão doce e tão sólido como nada que o possa ser. Não tem só terra, reparamos nós. Tem o sal, tem o vivo, tem o morto, e tem o que está no meio. Tem o vazio e tem o cheio, e tem-nos também a nós.
Achamos que estamos sozinhos, mas enganamo-nos. Achamos que somos únicos, falta-nos, porém, recordar que não estamos no centro da matéria. Para isso pensamos. Pensamos apenas pela forte maneira que isso traz de mentirmos a nós mesmos: é tão aprazível que nem nos lembramos de como frequentemente o fazemos. Queremos ser pintores e vemos figuras no céu. Queremos ser poetas, e sonhamos com as palavras. Experimentamos as rimas, somamos as sílabas, treinamos os tons. Como é bom fingir. Como é bom pensar que seria óptimo mas que se fica apenas pelo bom. Como é saudável fingirmos ser a dor que sentimos de verdade. E como é extraordinariamente reconfortante saudarmos a nossa alma com pequenos brinquedos de falsidade para apenas nos sentirmos maiores. Mas somos tão pequenos, tão redondos, tão fatigantes, tão irritantes, tão aborrecidos, tão insossos, tão tudo com nada. Tão manipuladores de nós mesmos, tão intrigantes, ao ponto de nos convertermos na dor que não somos mas que sentimos ser apenas para nos sentirmos mais vivos do que o pouco que estamos.
Nas nossas cabeças, descoordenadas, descobrimos vozes, diferentes, iguais, que dizem sim, não, que nos levam em frente e que nos puxam para trás. Mas somos livres, e nada nem ninguém nos pode conduzir à verdade. A verdade de cada um é a mentira do mundo. A mentira do mundo não é mais do que a mentira de muitos, a verdade de poucos e o não sei de alguns.
Agora soltamos, libertamos, deixamos a terra que apanhamos cair lentamente pelo entre dedos e pelas condutas da palma da mão. E ela, tal como nós, tem os milagres fenomenais, tem a água, tem a luz, tem raízes, tem folhas, e tem-nos. Como os rios, tem animais, mortos, vivos, a flutuarem, tem correntes e tem marés, e tem altos e baixos. Tem as pedras do destino assim como nós temos o pó nos sapatos. Tem vontade, de tudo, tem contorno, em tudo, tem limites, para tudo.
Damos o passo em frente e esquecemos o momento. Agora somos vida, basta!
Como se nada se tivesse ultrapassado em nosso diante, retomamos. Revivemos, esquecemos e desprezamos estes pensamentos de tal forma inúteis que ao serem quebrados por todos fazem com que os mesmos de sempre avancem com as suas guerras. E as mentalidades continuam estagnadas. Tradicional fim.